quinta-feira, 31 de maio de 2012

30 de maio de 2012: de Gorak Shep a Dingboche

O dia de ontem foi espetacular.

Atingimos, com louvor, um objetivo que, às vezes, nos parecia inatingível. A excitação em chegar ao EBC era tanta que ontem até esqueci de passar o protetor solar.

O sol por aqui é de lascar e à noite estava com o meu rosto todo vermelho, com a marca dos óculos e a metade da testa branca, por estar coberta pela touca.

Aqui nas montanhas, eu e a Karen costumamos usar expansores nasais para dormir. Expansor nasal é aquele adesivo que o Neimar usa nos jogos, e que nos facilita a respiração enquanto dormimos em altitudes elevadas. Até o Kalu, que nunca tinha usado o expansor, experimentou uma vez e agora vem toda noite buscar um novo com a gente.

Ontem à noite não foi diferente. Antes de dormir peguei um expansor e colei no nariz. Hoje pela manhã acordei com o rosto ardendo pela queimadura de sol do dia anterior. Quando fui descolar o expansor, a surpresa: a pele do nariz, sensível do sol, foi arrancada junto com o adesivo.

Fiquei com o nariz em carne viva, com uma aguinha correndo da ferida. Taquei hipoglós no nariz e fui tomar o café da manhã.

Então a situação era a seguinte: rosto com partes queimadas e outra brancas, o nariz em carne viva, a barba crescida e o cabelo alguns dias sem lavar. Meu aspecto era deplorável!

Quando me olhei no espelho, estava parecido com um summiter, ou seja, aqueles caras que atingem o cume da montanha e retornam todos estropiados. Gostei do visual de durão e comecei a brincar me dizendo summiter. Disse para o Kalu que estavamos criando a Nepal Azimuth Summiters Division.

Depois do café preparamos nossas coisas para deixarmos Gorak Shep em direção a Dingboche. É o começo do retorno à Lukla.

Gorak Shep, o Kala Patthar (5560m) e o exuberante Pumo Ri (7165m) vão ficando para trás.

Dingboche fica próxima de Pheriche, de onde fomos banidos. O percurso de retorno que devemos percorrer hoje equivale ao de três dias na ida ao EBC.


Dizem que para baixo todo Santo ajuda. Só que aqui no Himalaia tudo é muito relativo. Subir não é somente subir. Você sobe uma montanha, desce pelo outro lado para começar a subir em outra, e assim vai. Descer não poderia ser diferente. Você desce, sobe, desce, sobe, desce...



Aos poucos vamos perdendo altitude e ganhando oxigênio. O corpo percebe a mudança e reage positivamente. O que na subida se fazia bufando, no retorno fica mais fácil. Eu não disse fácil, disse mais fácil!

No caminho de volta nos deparamos com um riacho, oriundo do degelo das montanhas, que cruzava um leito de pedras com uma fina camada de gelo, sobre as quais precisávamos passar. Fui o primeiro a cruzar. Como as pedras com gelo estavam muito escorregadias, um dos meus bastões deslizou tirando meu equilíbrio. Caí sobre as pedras, mas não foi nada grave. Nem cheguei a me molhar. Levantei-me e terminei a passagem.

A Karen, vendo minha queda, travou. Ficou com medo de atravessar e cair também. Vendo a situação, o Bhala entrou em ação. Largou nossos equipamentos na outra margem e voltou para onde a Karen estava. Virou de costas para ela e disse: sobe que eu te atravesso para o outro lado. E assim foi!

Passamos por Lobuche e depois de uma escalada, chegamos novamente ao Dughla Pass e aos seus memoriais nas alturas.

Mais uma travessia de córrego bem sucedida e chegamos a Dughla. Parada para um chá.

Após uma nova escalada no desvio que nos levará a Dingboche, podemos visualizar Pheriche, lá em baixo. Ainda bem que o cara antipático do Hotel não conseguimos enxergar,
Seguimos por um planalto que, aos poucos, começa a apresentar um pouco maos de vegetação.
Esses arbustos começam a tomar conta da paisagem. São uma espécie de cipreste-anão que não consegue se desenvolver muito a essa altitude.
Essa palnta é coletada pelos habitantes locais e colocads para secar para, posteriormente, ser vendida como insenso para templos budistas.
No final da planicie existe uma antiga Stupa, de onde podemos ver Dingboche pela primeira vez.
A caminhada de hoje levou oito horas e meia, mas rendeu pela de três dias, devido ao oxigênio à favor.

Chegando em Dingboche nos hospedamos num pequeno Lodge que oferece o que procurávamos, mas não se acha em altitudes mais elevadas: um banho quente!



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