sábado, 19 de maio de 2012

Kathmandu finalmente!

Se você quiser se divertir num lugar muito louco, venha para Kathmandu. Mas traga muitas fotos 3x4!

A confusão já começa no desembarque. Na imigração encontramos um chinês criando caso porque queria as suas malas e o pessoal tentando explicar para ele que primeiro ele tinha que fazer o visto para depois retirar sua bagagem. Isso durou uns cinco minutos até que o chinês resignou-se a fazer o que estavam lhe dizendo. Contando não tem graça mas foi muito hilário!

Logo fomos atendidos pelos funcionarios da imigração, muito simpáticos, apesar de parecerem ainda meio alterados por causa do chinês. Entregamos a eles os formularios que nos foram entregues no avião já devidamente preenchidos, pagamos a taxa de visto e fornecemos nossas fotos para a elaboração das autorizações de entrada no Nepal. Tudo certinho. Dai, parece que o funcionario da imigração embaralhou tudo antes de devolver. Era a foto de um no visto do outro, uma confusão de papelada, repreenchimentos de formulários, recolagem de fotos... até um formulario preenchido pelo chinês entregaram para nós! Engraçado que se formou um bolinho de gente em volta para observar a confusão. Tudo resolvido, vistos na mão, sorrisos de todas as partes e entramos formalmente no Nepal.

Retiramos nossas malas das esteiras e passamos direto pela alfândega que não se interessou muito por nós. Procuramos pelo Kalu, o nosso guia de trekking, no saguão do aeroporto mas ele ainda não havia chegado.

Aproveitamos para comprar os chips da NCELL para os iphones e ipads, com pacotes de dados, na tentativa de permanecermos conectados com o mundo pelo menos por um bom percurso de nossa trilha. Pronto, começou a confusão de novo!

Como eram quatro chips, foram necessários quatro formularios, quatro copias do passaporte, quatro fotos e oito impressões digitais! Sim, impressões do dedão direito no quadrinho da esquerda e do dedão esquerdo no quadrinho da direita. Juro que não entendi o motivo dessa inversão.

Deve ser algo de Feng Chui, pensei ao carimbar meus dedos, sentindo uma certa nostalgia ao tentar lembrar qual foi a última vez que enfiei meus dedos naquelas almofadinhas de tinta. Argumentamos que não tinhamos quatro fotos para os formulários, pois precisavamos guardar algumas para a permissão de trekking no Parque Nacional de Sagarmatha. O rapaz da NCELL disse que não havia problema, sacou triunfante uma maquina fotográfica da gaveta, nos encostou contra a parede e tascou fotos nossas que são impublicáveis, no melhor estilo Delegacia. Ainda bem que não foi preciso fotos de lado, pois esse não é o meu melhor ângulo!

Engraçado que se formou outro bolinho de gente em volta para observar a confusão. A turba vibrou quando descobriram que eramos brasileiros e do bolinho vinham exclamações do tipo Pelé, Ronaldinho ou Kaká. Não saiu nenhum Maradona, o que demonstra o profundo conhecimento que os nepaleses têm de futebol e do Brasil. Acho que teve gente que viu ali o primeiro iPad da vida, perguntavam quanto custava e o contemplavam com uma atitude de respeito.

Chips prá lá, chips prá cá, e estavamos reconectados ao mundo. Despedimo-nos dos nossos amigos do bolinho com um reverente Namaste e inauguramos nossa linha celular nepalesa ligando para o Kalu para saber por onde ele andava. Ele estava nos esperando do lado de fora do aeroporto junto com um bolão de pessoas que sempre tinha algo a nos oferecer.

O Kalu e seu primo Ratna nos recepcionaram com colares de flores frescas amarelas e o desejo de boas vindas. Ele ficou impressionado com a rapidez com que passamos pela imigração, pois o processo costuma ser muito mais lento e complicado. Parece que no vôo de Doha somente eu, a Karen e o chinês eramos os únicos estrangeiros, o que "agilizou" o trâmite. Imagina como deve ser quando chega um avião abarrotado de gringos.





Um taxi especial para turistas aguardava para nos levar ao hotel. Nem o Kalu, nem seu primo, nem o motorista conheciam o nosso hotel que ficava mais para fora do centro, perto da Stupa Boudhanath, um dos inúmeros templos que enfeitam a cidade. Aliás, que cidade! Acho que Kathmandu está à frente de todos no atendimento daquele princípio fundamental da física que diz que todos os sistemas tendem a atingir o seu maior estado de entropia, ou seja, que tudo tende ao caos. Por aqui tudo parece ser caótico.

Para o trânsito, caótico talvez não seja a palavra mais adequada para caracterizá-lo, mas como não conheco o superlativo de caótico, essa mesma serve. Não é que o trânsito seja caótico, ele é C A Ó T I C O (assim ficou melhor!). Aqui o ônibus não repeita o caminhão, que não respeita o taxi, que não repeita o automóvel, que não respeita a motoneta, que não repeita a bicicleta, que não respeita o riquixá, que não respeita o pedestre, que não respeita o cabrito, que não repeita o ônibus. Não sei se esqueci de alguém dessa cadeia, mas se existir algum outro semovente, esse também não respeita ninguém. Na verdade, não é falta de respeito, pois no trânsito, entre freiadas, buzinas e fininhos milimétricos, todos convivem em perfeita harmonia anárquica, felizes, sorridentes e vivos. (Na verdade, apenas as vacas, por serem sagradas, têm a preferencial e circulam displicentemente por entre os carros...)

Após minutos de intensa emoção, chegamos ao Hotel Tibet Internacional, onde somos simpaticamente recepcionados. Aliás, a simpatia e hospitalidade dos nepaleses contrastam com a pobreza e a precariedade que a maioria deles vive. Por onde se passa, isso é permanentemente percebido. Talvez a influência dos princípios hindu-budista, que prega que o seu karma precisa ser vivido, faça esse povo ser tão adorável e honesto.

Nosso hotel é excelente, ainda mais se comparado ao padrão local, com quartos espaçosos e limpos, e um serviço de primeira por menos de 90 dólares a diária. Esse valor, muito razoável para os padrões ocidentais deve ser absurdamente elevado para Kathmandu, onde você pode encontrar onde pernoitar por míseros 3 dólares. Estamos super satisfeitos com o nosso hotel de luxo. Mais uma recomendação certeira dos membros do TripAdvisor.



Chegamos no quarto nos sentindo uns cacos, com as pernas inchadas e cansados da longa jornada desde o Brasil, e nos deparamos com uma bela banheira. Banheira! Tomamos banho, não é demais? Sabemos que banhos como esse não nos esperam no caminho para o Everest quando, por vezes, os banhos limitam-se a se esfregar com alguns baby wipes, aqueles lencinhos umidecidos.


Depois do banho, seguindo o nosso ritual de preparação e condicionamento físico e mental para trilhar nossa trilha, fomos para o spa do hotel, o Shambala Spa, porque ninguém é de ferro! Fizemos a Shambala Signature Massage, com uma hora de duração por um pouco mais de 20 dólares, e saímos de lá flutuando e entendendo o verdadeiro significado da frase Healing hands, body & soul escrita na entrada. Na volta do Everest devemos passar mais uma ou duas noites nesse hotel antes do retorno ao Brasil e já reservamos a Trekkers Recovery Massage, que tal?

Saindo do spa, fomos direto para o restaurante do hotel jantar, mas ele já estava fechando. Eram nove e meia da noite e a solução foi pedir algo no bar do hotel, que funcionava até as onze e servia pratos da culinária do Tibete. Pedimos Momo, uns pasteizinhos cozidos com molho picante, um prato de carne de iaque, legumes e molho picante e, de entrada, batatas picantes.



Apesar de apreciarmos comidas apimentadas, perguntamos ao garçom se os pratos que pedimos eram muito fortes. Ele sorriu e disse delicadamente que não. Sério???! Esse não deve estar muito preocupado com o seu próprio karma. Mas ainda acho que ele foi honesto em sua resposta, pois o que é para um, pode não ser para outro. No exterior, nunca se esqueça disso. Apesar do jantar ter nos deixado soltando fogo pelas ventas, a comida estava muito saborosa. Para beber, pedimos a cerveja local. Nos serviram a cerveja Everest! Ah, não poderia ser outra, poderia?



Às onze da noite em ponto o bar fechou as luzes se apagaram e, como estávamos numa mesa externa, ficamos ali, terminando nossa cervejinha, curtindo a noite de temperatura amena e contemplando Kathmandu que, finalmente, mergulhava no silêncio. Um momento MasterCard.

Fomos para o nosso quarto e pedimos mais uma Everest de saideira. Estávamos com a televisão ligada quando o rapaz do hotel trouxe a cerveja. Ele olhou para a tv e para nós e perguntou: Vocês entendem hindú? Nós respondemos que não, e caímos todos na risada.

Nos recostamos na cama para tomar a nossa Everest e curtir o Indian Idol que estava passando na televisão, conversamos um pouco com a nossa filha pelo skype e literalmente desmaiamos de cansaço. Acordei às quatro e meia da madrugada, sem sono pelo efeito do jet-leg (aqui estamos 8:45 horas à frente do horário brasileiro), para escrever esse post.

Logo começou a clarear, uma sinfonia de canto de passaros invadiu o quarto, indicando que a cidade estava acordando. Hoje vamos para Thamel com o Kalu comprar os equipamentos que necessitamos para o trekking e descansar o resto do domingo, pois amanhã vamos botar o pé na trilha.



Um comentário:

  1. Adorei a descrição dos fatos em ordem cronológica e muito bem organizados. Mas o mais interessante mesmo é a estória; esse lugar deve mesmo ser interessante e caótico simultaneamente.
    Esperando por mais notícias!

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