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segunda-feira, 28 de maio de 2012

27 maio de 2012: Dughla a Lobuje

Tomamos café ás cinco e meia da manhã e saimos de Dughla com destino a Lobuje, com nossos iPads nas mochilas servindo, apenas para aumentar o peso delas em nossas costas. Hoje devemos ganhar mais 320 metros de altitude.




Deste ponto em diante, se começa a sentir os efeitos da altitude e cada passo se torna mais difícil. O ar rarefeito multiplica o esforço da longa subida que enfrentamos. A respiraçao fica curta para compensar a falta de oxigênio e qualquer esforço nos deixa ofegantes, sendo necessária uma parada de um ou dois minutos, de tempo em tempo, para recuperarmos o fôlego, o que é normal e já era esperado.

Felizmente estamos reagindo bem à altitude e, até o momento, não sentimos nenhum sintoma relacionado à AMS (Acute Mountain Sickness)

Na continuação do caminho para Lobuje, escalamos o Dughla Pass, onde existe no topo da passagem um memorial em homenagem aos alpinistas que morreram tentando escalar o Everest. Dentre os diversos chortens, o qie mais nos chamou a atenção foi o memorial a Scott Fischer, o lider de uma expediçao mal sucedida ao topo do Everest, ocorrida em 1996, até hoje a maior tragédia ocorrida nessa montanha em um mesmo dia, e que deu origem ao livro e ao filme In To Thin Air, ou No Ar rarefeito, no Brasil.




A Karen apelidou o local de "Vale de los Caídos" . É um local com uma energia diferente, um misto de paz e perplexidade, que nos leva a refletir sobre a natureza humana e da necessidade atávica do homem em tentar romper com os limites que o aprisionam, mesmo que tenha de pagar com a sua própria vida. Nunca estamos satisfeitos com nossos feitos e conquistas e sempre buscamos mais. Assim foi e assim será! Estranho esse bicho homem...




Após cruzar o Dughla Pass seguimos nosso trekking pela morena lateral da Geleira Khumbu. Morenas ou morainas é o nome mais comum para os sedimentos das geleiras. As geleiras de vale produzem as morenas laterais que aparecem exclusivamente nos vales de montanha. Este tipo de morena se produz pelo deslizamento da geleira produzindo severos atritos de encontro às paredes do vale em que estão confinadas; desta maneira os sedimentos se acumulam de forma paralela às laterais do vale.



Toda essa explicação geológica para dizer que eu subi em cima da morena para tirar fotos e a Karen nem ficou braba comigo.

Seguindo nosso percurso na montanha tinhamos à nossa frente a visão do Pumo Ri (7161 m) e do Nuptse (7861m) à direita, formando um cenário magnífico e inesquecível. Mais alguns quilômetros de caminada e chegamos à fria Lobuche.




Lobuche (ou Lobuje) é um pequeno povoado a 4.940 metros de altitude, já proxima do Monte Everest. É uma das nossas últimas paradas para pernoite no caminho para o Everest Base Camp.

Lobuche está bastante movimentado nessa época do ano. A principal estação de escaladas ao summit do Everest ocorre de 15 a 31 de maio, quando essa se encerra e não são mais permitidas escaladas na montanha.

Centenas de carregadores e sherpas da região passam atualmente por Lobuche em seu caminho de retorno do acampamento base, trazendo de volta o equipamento das expedições que já concluiram suas escaladas. Além dos carregadores o trânsito de iaques tranportando itens do acampamento também é bastante intenso nesse final de maio.

De forma semelhante aos demais vilarejos próximos, as acomodações de alojamento em Lobuche são notoriamente primitivas. Os Lodges consistem em cabanas de pedra com um salão de refeição junto à cozinha, onde todos se reunem à noite em torno da estufa movida alimentadas à DYD*, única fonte de calor do local, já que os pequenos quartos contíguos ao salão não dispõem de qualquer tipo de calefação. Uma toilet comunitária com apenas um vaso sanitário ao estilo turco, completa a infra-estrutura disponível aos hóspedes. Banho só de gato, e o alcool-gel substitui a inexistente pia para lavar as mãos.




A matriz energética dos altos do Himalaia tem com principal combustível o DYD, ou Dried Yak Dump, que consiste em matéria orgânica processada por iaques, moldadas em forma de discos e postas para secagem ao sol. Para quem ainda não entendeu o que é DYD, vou procurar ser um pouco mais objetivo: é bosta de iaque seca!




O DYD é um combustível oriundo de fonte reciclável e ecologicamente correto, sendo queimado nas estufas para aquecimento e nos fogões para o preparo de alimentos, em substituição à lenha, que inexiste na região, ou ao gás que é muito caro devido ao transporte pelos porters.

Ainda bem que aqui nas montanhas não se faz churrasco!

Durante o jantar, o Kalu nos perguntou qual era a montanha mais alta do Brasil. Respondi que era o Pico da Bandeira com seus 2891 metros de altitude. O Kalu fez uma careta engraçada, pois essa é praticamente a altitude de Lukla, de onde partimos rumo ao EBC. E a Karen concluiu: Isso é um calombo! E caímos todos na risada. Depois fui pesquisar melhor e descobri que eu estava errado. O ponto mais alto do Brasil é no Pico da Neblina, em seus elevados 2993 metros. Errei por 102 metros, mas nem contei para o Kalu. O fiasco já estava feito. Afinal, calombo por calombo...




Obs: Durante o passeio, a qualquer momento, clique Pause nos controles da parte inferior do mapa. Então, para dar uma olhada na paisagem em volta, use os comandos à direita. Para continuar a trilha, basta clicar no Play


2 comentários:

  1. Queridos, mesmo sem fotos está muito interessante acompanhar a caminhada de vocês.As fotos veremos depois. Beijão Laura.

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  2. Emocionante o memorial ao Scott.Achamos que as nossas bandeirinhas ficaram como essas das fotos.Abraços.

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