O povo brasileiro é limpinho. Tomar ao menos um banho diário faz parte da nossa cultura, influência dos índios, e facilitada pela abundância de recursos hídricos que possuímos.
De manhã cedo você pega um ônibus e todo mundo está cheirosinho, cabelo ainda molhado. Tudo bem que que na volta para casa o coletivo exale um budum característico dos trabalhadores que pegam pesado e não dispõem de um ambiente climatizado. A maioria dessasa pessoas, muito provavelmente, vão chegar em suas casas e vão tomar o segundo banho do dia.
Lá em casa não poderia ser diferente. Banho todo dia, no mínimo um. A Karen, então, exagera. É comum vê-la passar mais de uma hora na banheira, coberta de bolhas e imersa na água quente misturada com seus sais de banho e óleos essenciais. Para passar o tempo, durante o banho ela deixa o radinho na Gaúcha e leva livros e revistas para dentro da banheira. Até o iPad eu já vi ela levar para lá.
Temos até uma brincadeira de família que inventei há um bom tempo atrás. Trata-se da celebração do Dia do Porco. Funciona assim: Quando alguém, inclusive eu, tenta dar aquela enforcadinha básica no banho (sabe aqueles domingos preguiçosos?), os outros começam a celebrar o Dia do Porco, cantando uma musiquinha com essa letra:.
Toda essa história para dizer que a gente adora banho e sobre como ocorre essa prática nas montanhas do Himalaia. O banho por aqui tem outra forma e sentido.
Primeiro porque as condições de infra-estrutura são inversamente proporcionais á altitude em que você se encontra. Eletricidade, só solar, e mesmo assim, meia boca. Gás em botijão também é escasso e chega às montanhas trazidos, desde Lukla, pelos carregadores (porters), em suas costas. Água encanada, nem pensar. A agua é canalizada dos córregos formados pelo degêlo das montanhas. Imagine a temperatura dela quando você lava as mãos.
Em segundo lugar, lá em cima é frio pra chuchu e o pessoal não vé muito sentido em ficar molhando o corpo e retirando as proteções naturais que o corpo produz para protegê-lo do frio.
Apesar de toda essa reflexão teórico-existencialista das montanhas nepalesas, os Lodges tentam se adaptar aos hábitos de higiene de seus hóspedes ocidentais e oferecer produtos que tentem satisfazer suas necessidades, apesar da precariedade de recursos disponíveis.
São eles:
Pois então, o último banho decente que eu e a Karen tinhamos tomado foi no dia 24 de maio, em Thyangboche ( com aquecedor de passagem à gás). Hoje, dia 30 de maio, começamos o nosso retorno, já descemos mais de 700 metros de altitude e estamos em Dingboche, onde tivemos o prazer de tomar outro banho decente ( tudo bem, não foi a opção 1, foi a 2, mas estava bom demais). Não sei se pelo ar que está menos rarefeito, ou se pela sujeira acumulada por seis dias e que se foi pelo ralo.
Seis dias sem um banho decente não é mole. Pelo menos cancelamos as festividades comemorativas da Semana do Porco, que não mais se realizará.
Amanhã vamos para Thyangboche e, adivinhem, mais banho quente!
Finalmente estamos, aos poucos, retomando contato com a civilização moderna. Chega do modelito Feios, Sujos e Malvados!
Minha única preocupação é que, quando chegarmos a Porto Alegre, eu vou ter que chamar os Bombeiros e a Defesa Civil para tirar a Karen de dentro da nossa banheira.
De manhã cedo você pega um ônibus e todo mundo está cheirosinho, cabelo ainda molhado. Tudo bem que que na volta para casa o coletivo exale um budum característico dos trabalhadores que pegam pesado e não dispõem de um ambiente climatizado. A maioria dessasa pessoas, muito provavelmente, vão chegar em suas casas e vão tomar o segundo banho do dia.
Lá em casa não poderia ser diferente. Banho todo dia, no mínimo um. A Karen, então, exagera. É comum vê-la passar mais de uma hora na banheira, coberta de bolhas e imersa na água quente misturada com seus sais de banho e óleos essenciais. Para passar o tempo, durante o banho ela deixa o radinho na Gaúcha e leva livros e revistas para dentro da banheira. Até o iPad eu já vi ela levar para lá.
Temos até uma brincadeira de família que inventei há um bom tempo atrás. Trata-se da celebração do Dia do Porco. Funciona assim: Quando alguém, inclusive eu, tenta dar aquela enforcadinha básica no banho (sabe aqueles domingos preguiçosos?), os outros começam a celebrar o Dia do Porco, cantando uma musiquinha com essa letra:.
Feliz Dia do Porco,
Vem comigo festejar,
Chafurdar no chiqueirinho,
Normalmente a pessoa homenageada se constrange e vai tomar banho.Não tem hora para acabar.
Toda essa história para dizer que a gente adora banho e sobre como ocorre essa prática nas montanhas do Himalaia. O banho por aqui tem outra forma e sentido.
Primeiro porque as condições de infra-estrutura são inversamente proporcionais á altitude em que você se encontra. Eletricidade, só solar, e mesmo assim, meia boca. Gás em botijão também é escasso e chega às montanhas trazidos, desde Lukla, pelos carregadores (porters), em suas costas. Água encanada, nem pensar. A agua é canalizada dos córregos formados pelo degêlo das montanhas. Imagine a temperatura dela quando você lava as mãos.
Em segundo lugar, lá em cima é frio pra chuchu e o pessoal não vé muito sentido em ficar molhando o corpo e retirando as proteções naturais que o corpo produz para protegê-lo do frio.
Apesar de toda essa reflexão teórico-existencialista das montanhas nepalesas, os Lodges tentam se adaptar aos hábitos de higiene de seus hóspedes ocidentais e oferecer produtos que tentem satisfazer suas necessidades, apesar da precariedade de recursos disponíveis.
São eles:
- Hot Shower 1: O luxo dos luxos. Banho quente com aquecedor de passagem à gás. A sala de banho é uma casinha tosca na rua e você tem que sair de lá todo entruxado de roupas e correr para dentro do saco de dormir no seu quarto, senão é resfriado na certa. Só disponível em altitudes mais baixas, mesmo assim é difícil de ser encontrado. Custa cerca de 450 rúpias nepalesas, ou 5,25 dólares. Sabonete, shampoo e toalha são por sua conta.
- Hot Shower 2: O luxo. Chuveiro conectado a uma bombona cheia de água aquecida no fogão. Esvaziou a bombona, acabou o banho. Se bobear fica ensaboado. Tem que ter foco, não dá nem para assoviar. Valem as mesmas precauções para evitar resfriados. Casinha na rua. Encontrado em altitudes baixas e intermediárias. Custa cerca de 400 rupias nepalesas ou 4,75 dólares. Sabonete, shampoo e toalha são por sua conta.
- Shower: Casinha na rua. Banho frio de chuveiro com a água do degêlo. Nem perguntei o preço porque não sou louco. Não sei se o banho é bom porque acho que não sobrou ninguém para contar.
- Hot Bucket: Casinha na rua. Você fica de calção ou cuecas do lado de um banquinho. Vem um cara com um balde cheio de água quente e sobe no banquinho. Daí ele despeja a água em cima de você. O que der para lavar, fica lavado. O que não der fica como está. Valem as precauções para evitar resfriado. Encontrado em altitudes elevadas. Custa cerca de 350 rúpias nepalesas, ou cerca de 4 dólares. Sabonete e toalha são por sua conta. Shampoo nem adianta levar porque não da tempo.
- Small Hot Bucket: Uma pequena bacia com agua quente, o famoso banho de gato. Ninguém despeja nada na sua cabeça. Você molha um paninho, esfrega no sabonete e depois passa na parte do corpo que preferir e assim sucessivamente. Aconselha-se começar pelo rosto. Como pode ser tomado no próprio quarto, as chances de resfriado são mínimas. Disponível em altitudes elevadas. Custa cerca de 200 rúpias nepalesas, ou 2,35 dólares. Paninho de esfregar, toalha e sabonete são por sua conta. Como não dá para lavar a cabeça, o shampoo é desnecessário.
- Baby Wipes: Não é oferecido por nenhum Lodge, mas você pode trazer de casa na mala. Uma espécie de banho de gato high-tech. Baita quebra galho. Você se sente um pouco mais limpo e ainda fica com cheirinho de bebê. Disponível em todas as altitudes, desde que você tenha trazido. Custo depende da marca. Johnsons costuma ser o mais caro nos supermercados e farmácias, mas é o lenço umidecido mais perfumado. Dispensa shampoo, sabonete e toalha. Para o serviço completo, experimente o talco para lavagem a seco dos cabelos. Os cabelos continuam sujos, mas com aquele aspecto de que não estão assim tão sujos.
- A opção mais popular: Diga: Ah, hoje caminhei quase doze horas, escalei o Kala Pathar, a altitude está acabando comigo, estou podre de cansado, vou jantar e dormir sem banho. Não se preocupe que ninguém vai reparar, afinal essa é a opção mais popular!
Pois então, o último banho decente que eu e a Karen tinhamos tomado foi no dia 24 de maio, em Thyangboche ( com aquecedor de passagem à gás). Hoje, dia 30 de maio, começamos o nosso retorno, já descemos mais de 700 metros de altitude e estamos em Dingboche, onde tivemos o prazer de tomar outro banho decente ( tudo bem, não foi a opção 1, foi a 2, mas estava bom demais). Não sei se pelo ar que está menos rarefeito, ou se pela sujeira acumulada por seis dias e que se foi pelo ralo.
Seis dias sem um banho decente não é mole. Pelo menos cancelamos as festividades comemorativas da Semana do Porco, que não mais se realizará.
Amanhã vamos para Thyangboche e, adivinhem, mais banho quente!
Finalmente estamos, aos poucos, retomando contato com a civilização moderna. Chega do modelito Feios, Sujos e Malvados!
Minha única preocupação é que, quando chegarmos a Porto Alegre, eu vou ter que chamar os Bombeiros e a Defesa Civil para tirar a Karen de dentro da nossa banheira.