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domingo, 27 de maio de 2012

26 de maio de 2012: Banidos de Periche



Conforme nosso planejamento inicial, hoje deveríamos ter o nosso segundo dia de aclimatação, dessa vez a 4240 metros, em Pheriche, onde dormiríamos duas noites.


Ontem depois do jantar, conversavamos com o Kalu sobre nossa programação e, como não vinhamos apresentando nenhum sintoma de alerta relacionado com a altitude, ele propos o cancelamento do dia aclimatação previsto para hoje e que partíssemos para Duglha (4620 m) pela manhã, avançando mais 380 metros de altitude e ganhando um dia de folga em nosso schedule para qualquer imprevisto. avaliamos e aceitamos a proposta. Partiríamos hoje cedo para Dughla.

Café da manhã tomado, mochilas nas costas, e saimos caminhando pela trilha que leva à Dughla.

Depois de uns vinte minutos de trekking, comentei com a Karen e o Kalu, que estava em dúvida se fizemos a decisão correta, pois muitas das referências que consultamos diziam que um dia de aclimatação em Namche Bazaar e um segundo em Pheriche eram fortemente recomendados como forma de prevenir a Doença Aguda das Montanhas.



Ponderei se, mesmo nos sentindo bem naquele momento, esse dia de aclimatação cancelado não poderia fazer falta para a gente em altitudes superiores.

O Kalu disse que, conforme a experiência dele, devido a ausência de sintomas àquela altitude, seria pouco provavel que tivessemos problemas mais para cima, mas que se isso nos deixava desconfortáveis, poderiamos retornar para Pheriche e ter nosso dia de aclimatação. E decidimos voltar.



Chegando a Pheriche disse que não queria ficar no mesmo hotel, porque não gostei do atendimento, nem da cara do dono.



Passamos direto pela frente do hotel e ele estava na porta nos observando. Procuramos o melhor hotel de Pheriche e ele já estava fechado, pois a temporada nas montanhas se encerra dia 31 de março, ou seja, faltava menos de uma semana, o movimento havia caído muito e muitos lodges já estavam fechados.

Passamos por todos os hotéis abertos da cidade e a resposta era sempre a mesma: não temos vagas! E a gente via que eles estavam praticamente sem hóspedes. Em um dos lodges que passamos, a dona disse: não tem vaga, porque vocês saíram do lodge em que estavam? Como ela sabia que já estavamos hospedados na cidade? Daí começou a cair a ficha!



Só nos restava a opção de voltar ao mesmo hotel da noite anterior. Chegando lá, o cara antipático nos recebeu de costas e disse: não tem vaga!, girando apenas um pouco o pescoço de forma a mostrar um sorriso triunfante! O hotel dele também estava vazio.

Sabíiamos que existiam muitas vagas em diversos lodges da cidade, mas não para nós. Estávamos sendo banidos de Pheriche. Não nos restava outra opção senão retomar o plano de ir para Dughla. E para lá partimos.

Depois ficamos sabendo que o antipático do hotel era o cara mais rico do vilarejo e que comandava todo mundo por lá. Não é que ele ligou para todos os outros instruindo a não nos fornecer hospedagem?

Não sei se existe a máfia phericheana, mas se existir esse infeliz é o capo di tutti capi.

Duas coisas me consolam: A primeira é que quando voltarmos do Everest Base Camp não vamos passar por Pheriche. A segunda é que dentro de alguns dias estaremos de volta à Porto Alegre e a todo o conforto característico das grandes cidades ocidentais, enquanto o antipático do hotel vai continuar em Pheriche (não sei porque, agora me lembrei daquele quadro humorístico que diz: Ai, como eu sou bandida!)


Deixamos a aldeia de Pheriche para tras caminhando sobre um vale de grama carpete para Phuling Karpo de onde começa uma escalada ascendente. Cruzamos uma pequena montanha de pedras e seixos que é, na verdade, o final da morena da Geleira Khumbu.


A distãncia entre Pheriche e Dughla não é muito grande, mas a dificuldade das trilhas, as escaladas, o ganho de altitude e o ar rarefeito, fizeram com que a gente percorresse o percurso em meras quatro horas e meia.

Dughla é um lago glacial com uma pequena aldeia ao sul da Geleira Khumbu. Consiste em várias cabanas, localizadas a uma altitude de 4593 metros, tornando-a um dos assentamentos mais altos do mundo, mas não habitado permanentemente durante todo o ano, servindo essencialmente para abrigar os trekkers.


Chegamos ao Lodge e fui direto pedir uma carga para o iPad que estava sem bateria. Nas montanhas do Himalaia os quartos dos Lodges não possuem tomadas, e a carga de bateria dos eletronicos somente pode ser feito na recepção a qual é paga por hora.

Uma hora de carga para um notebook custa 450 rupias nepalesas, ou US$ 5,25. Já para maquinas fotograficas ou celulares a carga fica por 300 rupias nepalesas (US$3,5) por hora. O problema é que devevido a baixa temperatura uma hora de carga não rende quase nada. No iPad uma hora de carga significa entre 15 a 20% da carga total. Além disso, a capacidade de retenção de carga das baterias no frio se reduz muito e a bateria se esgota em poucas horas após a carga, mesmo sem o uso do equipamento.

Então a situação é a seguinte, quando a bateria tem carga, não tem sinal de internet. Quando tem internet, não tem carga. Quando tem carga e internet, o software dá pau. Parece o inferno brasileiro!

Voltando à história, fui à recepção pedir a carga do iPad e fui informado que naquele dia não tinha energia para vender. Nas montanhas a energia eletrica é produzida por células solares fotovoltaicas, e como o dia foi nublado, o sistema não tinha acumulado energia.

Aliás, naquela noite não haveria luz em nenhuma parte do Lodge. Como resultado tivemos um jantar romântico à media luz. Comemos Dal Bath à luz de nossas lanternas de cabeça. Depois fomos dormir em nossas camas de solteiro, enfiados nos sacos de dormir. Nas mochilas os iPads, mortinhos, mortinhos.

É dura a vida no Nepal.







Obs: Durante o passeio, a qualquer momento, clique Pause nos controles da parte inferior do mapa. Então, para dar uma olhada na paisagem em volta, use os comandos à direita. Para continuar a trilha, basta clicar no Play


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