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terça-feira, 29 de maio de 2012

28 de maio de 2012: Rumo a Gorak Shep

Passei a noite inteira com a minha brasilidade atingida em função da conversa de ontem à noite sobre a montanha mais alta do Brasil. Pela manhã, durante o café, retomei o assunto e comentei com o Kalu sobre a viagem que fizemos no ano passado para as Ilhas Maldivas, destacando que o ponto mais alto daquele país tem 1,2 metros, isso mesmo, um metro e vinte centímetros. O Kalu fez uma careta ainda mais engraçada. Saí da mesa feliz da vida. No Brasil não tínhamos um calombo, tínhamos um montinho. Calombo é nas Maldivas! Fiquei imaginando a confusão na cabeça do Kalu, que nasceu no país das maiores montanhas do mundo...

Saímos de Lobuche (4910m), bem cedinho, depois do café da manhã. As trilhas praticamente não existem mais e os caminhos entre pedras, desfiladeiros e geleiras tomam conta de todo o percurso.



Logo no início da caminhada, atingimos a marca dos 5000 metros, sem sentirmos nenhum sintoma de AMS, o que é comemorado com satisfação.



Hoje devemos ganhar mais 230 metros de altitude. O ar rarefeito faz com que o nosso avanço seja lento e muito cansativo. Cada passo requer uma respiração. O ar nessas alturas possui 50% de oxigênio, se comparado ao mesmo volume no nível do mar.



Nessa condição a respiração fica cada vez mais curta, numa tentativa do organismo em compensar a falta de oxigênio com uma maior frequência respiratória. Aqui, toda a economia de energia é bem vinda. Manter o corpo bem aquecido e realizar apenas os movimentos necessários para continuar progredindo, são fundamentais para o atingimento de nosso destino.



Pequenos detalhes, como manter a umidade e o calor da respiração, cobrindo-se a boca e o nariz com nossos buffs, faz com que o corpo não desperdice calor e água desnecessariamente para aquecer e hidratar o ar seco e frio do Himalaia.

O estabelecimento de pequenas metas a serem alcançadas, como atingir o topo de um pico, ou cruzar uma geleira, seguidos de uma pequena pausa para descanço, facilitam nossa progressão.

Durante a caminhada, conhecemos a Parvaneh Kazemi, uma summiter iraniana, que voltava da façanha de alcançar o topo do Everest (8848m) e do Lhotse (8516m) numa única semana, um record. O que ela conseguiu realizar é realmente muito, mas muito difícil. Esse encontro nos deu nova motivação em prosseguirmos adiante.





O vilarejo de Gorak Shep, a 5140 metros é a nossa ultima parada de aclimatação antes de alcançarmos o "Everest Base Camp" em nosso trekking desde de Lukla, seguindo o que o Dalai Lama apelidou de "os passos para o céu".

Passadas cerca de cinco horas de caminhada, do topo de uma montanha, avistamos Gorak Shep pela primeira vez. Gorak Shep no idioma local significa “ravinas mortas” devido à total ausencia de vegetação nessa altitude.



Gorak Shep foi o original campo base para as escaladas do Everest, sendo usado na expedição Suiça do 1952.

Necessariamente devemos passam a noite aqui, porque as nossas autorizações de trekking não permitem o pernoite em tendas no Campo Base do Everest.

Ao lado de Gorak Shep fica o monte Kala Patthar, com os seus 5.643 metros é o ponto mais alto que podemos chegar sem uma licença de escalada, climbing permit. A montanha se parece com uma duna gigante, pairando sobre o leito do antigo lago, e da sua encosta é possivel visualizar a geleira do Khumbu, que passa a uma centena de metros de Gorak Shep.

Normalmente a escalada ao Kala Patthar é iniciada nas primeiras horas da manha, quando a visibilidade costuma ser melhor. Para chegar no cume e voltar são necessarias 4 horas.

A Karen e eu decidimos por não escalar o Kala Patthar, pois chegamos a Gorak Shep perto do horário do almoço e a visibilidade não era boa. Principalmente, consideramos também que o elevado ganho de altitide de Lobuche ao Kala Patthar de 733 metros, poderiam produzir sintomas de AMS e comprometer nossa chegada ao Base Camp prevista para o dia seguinte. Além disso, queríamos descansar e recuperar as energias para o grande dia.

Durante a tarde presenciamos o resgate de uma alpinista que apresentava sintomas de AMS.

Aliás, avistar helicópteros de resgate tem sido uma rotina desde que saímos de Lukla. Em média vemos passar cerca de dez viagens de resgate de helicoptero por dia, vindas do EBC.

Assim com Lobuche, Gorak Shep estava cheio de gente vinda do EBC, cujos acampamentos das expedições estavam sendo desmontados, devido a aproximação do final da temporada de escaladas ao Everest. A maioria dos Lodges do vilarejo estavam lotados e, por alguns minutos fiquei apreensivo se conseguiríamos lugar para ficar lá.

Por sorte, o Kalu conseguiu o último quarto no melhor Lodge local, onde passaríamos as próximas duas noites. Na primeira noite o Kalu precisou dormir no salão de chá, pois não existiam mais quartos livres.



O salão de chá é, na verdade, o local onde se realizam todoas as refeições e onde o pessoal se reúne para trocar experiências. O ambiente é todo decorado com bandeiras, flâmulas e camisetas das expedições que vão ao EBC, ou escalam o Everest.



Tudo gira em torno do montanhismo, menos um cantinho do salão: o cantinho brasileiro. Ali, além da bandeira do Brasil, duas bandeiras de times de futebol decoram o ambiente. As únicas duas bandeiras de times de futebol de Gorak Shep. De que times? Adivinha, tchê!



Pois as bandeiras só poderiam ser do Inter e do Grêmio. Mas que barbaridade o que essa gauchada faz mundo afora! A dupla Grenal no topo do Himalaia. Não podiam ser de outros times, não é? Bem capaz!

Obs: Durante o passeio, a qualquer momento, clique Pause nos controles da parte inferior do mapa. Então, para dar uma olhada na paisagem em volta, use os comandos à direita. Para continuar a trilha, basta clicar no Play



Um comentário:

  1. SENSACIONAL e EMOCIONANTE.Que os DEUSES das montanhas abençoem voçês e voltem pra casa com as mochilas cheias dessa FORÇA pra dar um pouco pra nós.

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