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sexta-feira, 1 de junho de 2012

31 de maio de 2012: Retorno a Thyangboche

O dia amanheceu com uma névoa fria cobrindo a cidade. Uma caneca de chocolate quente com uma torrada de queijo de iaque e estamos prontos para deixar Dingboche.



Apesar de ainda estarmos a 4410 metros de altitude em Dingboche, a redução de quase 1000 metros desde o EBC, faz muita diferença. A cada metro que baixamos vamos ganhando uma melhor performance. O belo banho quente que tomamos ontem no final da tarde também contribui em nossa disposição.

O vilarejo é bastante extenso e gastamos algum tempo caminhado por entre muros de pedra até iniciarmos a trilha com destino a Thyangboche.


Na saída de Dinboche um outro cão preto nos escoltou durante um trecho da trilha, sendo substituido posteriomente pelo Ginger, um cão meio ruivo. Interessante esse hábito dos cães do Himalaia em seguirem os trekkers por partes do caminho. Talvez seja uma forma de distração para eles, afinal de contas os vilarejos não possuem nem postes...

Em alguns locais do caminho, a densa névoa não nos deixa apreciar a paisagem. Ficamos torcendo que, com o aquecimento do sol, a névoa se dessipe. As névoas da manhã são bem branquinhas, mas a de hoje é mais escura, o que pode ser um prenúncio de chuva.


No início de junho começao verão e a monsoon no Himalaia, ou o período de chuvas torrenciais. A última quinzena de maio, período do nosso trekking, é chamado de pré-monsoon e as chuvas já costumam se fazer presentes.

Fazer trekking no período de monsoon não é muito recomendável, pois além do incômodo da chuva e do frio, as trilhas ficam embarradas e as pedras escorregadias, o que não é muito bom quando se passa por caminhos estreitos na beira de penhascos. Além disso, você também pode ser surpreendido por deslizamentos de terra e pedras nas encostas, devido ao solo encharcado e aos corregos que se formam montanha abaixo.


Além do maior perigo em percorrer as trilhas no período das chuvas, um outro inconveniente surge com as águas. Montões de sanguessugas pequeninas passam a habitar os caminhos. Elas entram dentro das calças e das botas e vão na sua carona, banqueteando-se com o seu sangue.

Essas danadinhas aplicam um anestésico na sua pele antes de sugar o sangue através de suas ventosas. Ou seja, quando você percebe, já foi chupado.

Para a nossa sorte, a temporada das chuvas está atrasada esse ano e, salvo umas gotinhas aqui e ali, ainda não tivemos que fazer trekking na chuva, nem tivemos nenhum encontro com essas pequenas vampirinhas. No entanto, segundo a meteorologia, a previsão é de chuva para os próximos dias. A monsoon finalmente deve começar em breve.

Lentamente o azul começa a pintar o céu. A névoa escura começa a clarear e parece que hoje também não teremos chuva durante a trilha.

No caminho cruzamos rios caudalosos devido ao degelo das montanhas.


Paramos em Shomare (4010m) para o almoço.



A medida em que vamos descendo as coisas vão voltando ao normal. O verde volta a tomar conta da paisagem e nossos corpos vão recuperando as forças.


Retornamos à floresta de rododendros, que começa após Pangboche e se extende até Thiangboche. Essa floresta é o ambiente predileto da Karen ao longo de todo o percurso.

Em Deboche paramos num alojamento de porters para um chá de gengibre. Estes alojamentos são ainda mais simples do que os destinados aos trekkers. O dormitório é coletivo com o maior beliche que já vi na vida.

Uma senhora sherpani idosa e muda nos seguia por um trecho do caminho analisando-nos curiosamente. No alojamento ela começou a se comunicar por sinais com a Karen, contando que sobrevivia carregando pedras no seu cesto.

Seus olhos e mãos vasculhavam detidamente os cabelos da Karen, seu relógio, pulseiras, coisas de mulher. Seu sorriso se iluminava a cada peça que examinava. Na despedida, demos alguns snaks (barrinhas de cereal, chocolates) para a velha senhora, além de uma nota de 500 rupias nepalesas, equivalente a um pouco menos de seis dolares.

Ela ficou muito feliz e guardou o dinheiro em uma bolsinha que trazia pendurada no pescoço. Disse, por gestos, que com aquele dinheiro iria comprar sapatos novos e, se desse, um relógio igual ao da Karen. Despediu-se da gente com um reverente Namastê e foi ficando para trás na trilha.

Saímos satisfeitos por dar alguma alegria àquela velha sherpani. Na minha cabeça uma certeza absoluta: Mulher é tudo igual. Se ganham um dinheirinho vão correndo comprar sapatos!

Após um trecho ingreme de subida, chegamos novamente a Thyangboche, com o seu mosteiro, lodge, banho quente e sua bakery e as maravilhosas tortas e xícaras de expresso.




Um comentário:

  1. Que bom que vocês voltaram a postar as fotos. Lindas!!!!!!!!!!! Que viagem bacana e pela cara de vocês deve estar valendo muito. Saudades de vocês, beijos Laura.

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