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segunda-feira, 4 de junho de 2012

Fechando as malas

Hoje acordamos cedinho para preparar nossas malas para a viagem de retorno ao Brasil.

O Kalu veio tomar café da manhã conosco e trazer umas encomendas que fizemos em Thamel. À tarde retornaria para nos levar ao aeroporto.




No almoço, uma surpresa: O Sonam foi ao hotel se despedir da gente e nos levar alguns presentes. Ganhamos kataks amarelos de seda, com o desejo de uma boa jornada de volta para casa.



O Sonam também nos deu uma tela nepalesa que significa o Círculo da Vida. Chegando a Porto Alegre vamos emoldurar nosso presente e pendurá-lo em local de destaque.


Após uma xícara de chá, a despedida. Uma triste e silenciosa despedida, carregada de emoção. Ao longo do percurso fomos, de certa forma, adotados pelo Sonam que, espontaneamente, resolveu se incorporar ao nosso grupo, deixando o Lodge de Phakding, do qual é o proprietário, aos cuidados dos empregados.

Estávamos todos meio jururus naquele clima de despedida de alguém que há pouco conhecemos e já começamos a gostar e que, muito possivelmente, nunca mais encontraríamos.

De repente, o convite: -Venha nos visitar no Brasil durante a Copa de 2014. E o rosto do Sonam se iluminou. Sim, quem sabe! disse ele feliz, trocando o ar triste por uma expressão de esperança. A atmosfera ficou mais leve com a troca do Adeus pelo Até Breve! E rápido como veio, se foi passando pela porta do salão de chá.

Depois do almoço o Kalu foi ao hotel para nos levar ao aeroporto e aquele clima  meio triste pintou de novo. Dessa vez ganhamos kataks de seda vermelha como proteção para o nosso retorno.

Nas montanhas, quando alcançamos o EBC, demos para o Kalu uma pequena bandeira do Brasil com a data e nossas assinaturas, para pendurar no seu escritório como lembrança.


Agora ele retribuía a gentileza nos oferecendo a bandeira do Nepal para a gente trazer para casa.

Fizemos para ele o mesmo convite feito ao Sonam: - Venha nos visitar no Brasil durante a Copa de 2014!

Ele nos olhou ainda tristemente, com quem diz: - Isso é impossível. Então complementamos: - Até pouco tempo nós achávamos impossível a gente ir até o Acampamento Base do Everest, e acabamos de chegar de lá! Tente, quem sabe você consegue chegar ao Brasil! E, como mágica, o ambiente voltou a ficar alegre e descontraído.

Quando fomos fazer o check-out no hotel, levávamos no pescoço os kataks amarelo e vermelho que ganhamos. O pessoal da recepção olhou para a gente, sorriu, e nos colocou mais um katak de seda, o terceiro, dessa vez da cor marfim.

Com tantos bons eflúvios, nada de ruim poderia acontecer no nosso retorno.

Já no aeroporto, a derradeira despedida do Kalu foi emocionante. Parte da gente queria ficar e parte do Kalu queria ir junto. A Karen não aguentou e se debulhou em lágrimas e o Kalu se despediu e saiu correndo para esconder o choro. Não olhou mais para trás e sumiu na multidão.

Após a imigração encontramos novamente a Parvaneh Kazemi, a summiter iraniana que tinha alcançado o topo do Everest (8848m) e do Lhotse (8516m) na mesma semana. Ela pegou o mesmo vôo nosso até o Qatar e ficamos conversando um pouco com ela sobre o seu feito.

Uma meia hora depois, já recompostos e na sala de espera do aeroporto, trocamos mais algumas mensagens de texto com o Kalu, dizendo o que não foi dito na despedida. Encontramos pessoas e deixamos amigos aqui no Nepal.


A chamada para o embarque, o cinto afivelado e, pouco tempo depois da decolagem, pela janela do avião, as maiores montanhas do mundo mais pareciam miniaturas de uma grande maquete. Estamos indo de volta para casa.

E da minha cabeça não saía a música Encontros e Despedidas do Miltom Nascimento, que diz:

Mande notícias do mundo de lá
Diz quem fica
Me dê um abraço, venha me apertar
Tô chegando
Coisa que gosto é poder partir
Sem ter planos
Melhor ainda é poder voltar
Quando quero
Todos os dias é um vai-e-vem
A vida se repete na estação
Tem gente que chega pra ficar
Tem gente que vai pra nunca mais
Tem gente que vem e quer voltar
Tem gente que vai e quer ficar
Tem gente que veio só olhar
Tem gente a sorrir e a chorar
E assim, chegar e partir
São só dois lados
Da mesma viagem
O trem que chega
É o mesmo trem da partida
A hora do encontro
É também de despedida
A plataforma dessa estação
É a vida desse meu lugar
É a vida desse meu lugar
É a vida...

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